sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A ESCOLHA DOS CONDENADOS

Os dois prisioneiros foram escoltados até um estranho e luxuoso salão, onde diversas portas aguardavam fechadas. O rei e seus súditos esperavam com ansiedade, enquanto eram servidos de vinhos exóticos. A cada um dos cativos, eram concedidos os seguintes direitos: fazer uma pergunta ao oráculo, que teria que dizer a verdade, e escolher uma das portas, onde suas sentenças de morte seriam executadas de imediato.

- Qual das passagens me trará menor dor? – questionou um dos condenados, sob murmúrios de aprovação da platéia. O velho posicionado sobre um tablado apontou:

- A terceira.

O preso respirou fundo e puxou o trinco, apenas para ser carbonizado pelas chamas que saíram lá de dentro. Gritou e caiu no piso de mármore, contorcendo-se com agonia atroz e abrasadora. O fogo se apagou e ele ficou lá deitado, gemendo como um cão recém-nascido. Levou vários minutos para morrer.

- Desgraçado, porque você mentiu?! – perguntou o outro condenado, com revolta.

- Não menti – disse calmamente o oráculo, provocando uma palidez extrema no rosto do cativo. – Agora escolha sua porta.



domingo, 7 de fevereiro de 2010

O DRAGÃO DO TERRENO BALDIO

Ao lado da minha casa, existe um terreno baldio. Capim e plantas daninhas crescem no solo com velocidade alarmante, obrigando o anônimo proprietário a pagar dois jardineiros para limpar o local. Eles aparecem de tempos em tempos com suas foices e máquinas barulhentas, com serras giratórias que gritam de forma estridente. É sempre um alívio quando eles chegam, pois o mato alto pode servir de abrigo para ladrões. Desconfiança que me força a ficar atento, sempre que chego em casa de madrugada.

Há poucos dias eu estava saindo da garagem, quando vi um estranho movimento no limite entre o terreno e a rua. Era uma oscilação tranqüila, reptiliana. Parei o carro para olhar melhor o grande lagarto que desaparecia entre as folhas, a comprida cauda com listras amarelas se arrastando sem pressa. “É um teiú”, identifiquei de imediato. Para alguém nascido na cidade grande, há algo de mágico em ver um animal silvestre de perto, ainda mais tão próximo de nosso lar. De fato, é uma das poucas coisas legais de morar no interior.

O mato já estava meio alto, o que indicava que os jardineiros viriam logo. Isso me preocupou um pouco, pois o réptil poderia ser ferido involuntariamente. Ou voluntariamente, pois sempre preciso lembrar que nem todo mundo gosta de animais como eu.

Ao voltar para casa mais tarde, fiz uma busca pelo terreno, vencendo meu receito dos insetos e aranhas. Sei que parece frescura, mas é que sou alérgico. Enfim, minha idéia era capturar o animal e levá-lo para alguma mata próxima. Já trabalhei em um zoológico, e tenho uma leve noção de como lidar com répteis. Porém, após procurar um pouco, desisti; há muitos buracos e troncos ocos onde um lagarto como aquele poderia se esconder. Procurei me conformar, sabendo que esses animais são espertos, e fogem rapidamente quando escutam uma ameaça próxima. O que poderia fazer além de torcer pelo melhor? Bem, eu sempre via quando os jardineiros chegavam, então estava decidido a conversar com eles antes que começassem seu trabalho. Isso deveria bastar para que tomassem cuidado.

Nos dias seguintes, sempre dava uma olhada no terreno baldio ao sair de casa, esperando algum sinal do novo vizinho. Não tive sucesso. Mesmo assim, era agradável pensar que havia um monstro, um dragão escondido por ali. Uma criatura do tempo dos dinossauros, espreitando entre o capim com seus olhos frios, inquietantes. Na minha imaginação, o terreno agora era um cenário pré-histórico, com alguma coisa selvagem rondando nas sombras.

Mas na última quinta-feira, ao voltar para casa, vi o animal parado junto ao meio-fio. Sua imobilidade me pareceu... errada. Estacionei o carro e fui olhar, com o coração aos pulos. Paradoxalmente, desejava que ele não estivesse lá quando eu chegasse. Queria vê-lo fugindo para longe, com aquele andar balançante que os répteis fazem ao correr, a cauda estalando como o chicote de um deus pagão e enlouquecido.

Mas eu tentava me iludir, pois já sabia que ele estava morto. Uma porção do estômago jazia fora do corpo coberto de formigas, indicando que algum trauma causara sua morte. Atropelamento? Ataque de cães vadios? Maldade das crianças que estão sempre brincando por ali? Quem sabe...

Gostaria de ter sido menos preguiçoso, menos acomodado. Queria ter tido mais empenho em levá-lo para um lugar seguro. Mas essas são reflexões vãs, de alguém que não sabe se conseguiria salvar o bichinho.

A única coisa que sei é que sinto um vazio esquisito ao olhar para a antiga floresta pré-histórica, que voltou a ser um mero terreno baldio.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O conto O Confessionário foi publicado no site Contos Fantásticos.

Mais uma história minha publicada em um site de respeito. Quem não conhece o conto pode aproveitar a chance clicando aqui.

Abraços!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Prorrogado o prazo para participação da antologia Zumbis - Quem disse que Eles estão Mortos?


Pessoal, o prazo para tentar participar da coletânea sobre os adoráveis cadáveres semoventes foi prorrogado para 01/03/10. Se você tem uma boa idéia para uma história de zumbis, não deixe de participar. O regulamento pode ser lido em www.cranik.com/zumbis.html. Abraço!