quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Miniconto: O INVASOR

O INVASOR

Jorge sentiu o golpe no pescoço assim que entrou em casa, quando ia acender a luz. Rodopiou pelo ar, o tempo se esticando de maneira delirante. Dentre as várias coisas que passaram por sua mente repleta de pavor, imaginou qual seria a força necessária para fazer seus 85 quilos voarem com aquela desenvoltura. Embora a dor tivesse sido intensa no primeiro instante, já havia desaparecido antes dele atingir o chão.
Rolou alguns metros pelo assoalho até bater na parede. Tentou levantar para fugir do invasor que atacara pelas costas, no entanto estava paralisado, não sentia mais o corpo. Será que a pancada tinha sido intensa o suficiente para deixá-lo tetraplégico? Tudo indicava que sim. Parecia estar ficando inconsciente, o que era quase um alívio. Afinal, a possibilidade de estar incapacitado era triste demais para suportar.
A lâmpada foi ligada. Os olhos da vítima estavam voltados para a porta, então conseguiu ver seu agressor: era o marido da doce Ângela, sorrindo de forma vingativa enquanto segurava um machado ensangüentado.
Antes do resíduo de vida finalmente se esvair do cérebro, Jorge viu seu corpo decapitado caído aos pés do assassino.

domingo, 23 de novembro de 2008

Volto Logo

Só para variar um pouco, vou postar uma poesia escrita por minha mãe, Ana Florisa Rodrigues Carneiro. Sempre que leio, sinto um calafrio na espinha. Confiram, depois digam se estou errado.


Volto Logo

Um abraço
Um beijo
Uma despedida
Alguém partindo
Mas tinha que ser você
Tinha que ser você a partir
Não podia ser outro?
Tinha que ser você?
Me pergunto
No meu egoísmo
Me lamento
Me desespero
Choro
Me angustio
Como pôde?
Como pôde partir sem mim?
Tu que és a razão da minha vida
Grito, mas tu não me ouves mais
Chamo teu nome e te pergunto
Te pergunto outra vez
Por que foste meu amor?
Por que foste sem mim?
Então tento me afastar
Mas não consigo
Sozinha, eu não consigo
Então fico, é difícil
Então aos poucos
Bem devagar, vou me afastando
Passo a passo, lentamente
Eu vou indo, paro, olho
E num último olhar desesperado
Pra tua tumba gelada
Te prometo
Volto logo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Conto: UM CONTO COM FINAL FELIZ

Essa história foi escrita quando eu participava de um grupo do Yahoo chamado CryaContos, e o desafio do mês era criar um conto com temática natalina. O resultado é esse, que vc confere no link abaixo (também publicado pelo site Boca do Inferno).

http://www.bocadoinferno.com/romepeige/contos/contocomfinal.html

E já entrando no clima do natal: um abraço, paz na terra e todo aquele blá blá blá de sempre.

domingo, 16 de novembro de 2008

Conto: O LENÇOL

Abaixo, o link para um conto que publiquei na edição 13 da Scarium. Chama-se O Lençol. Não tenham preguiça, é só dar um clique que essa obra prima da literatura (sim, estou sendo irônico) irá se revelar por inteiro na tela do seu micro. Foi escrito há muito tempo, então não reparem nos erros bobos, ok? Algum dia, eu posto a versão revisada por aqui.

O LENÇOL
http://www.bocadoinferno.com/romepeige/contos/lencol.html

Obs. O link abaixo é do site Boca do Inferno, onde O Lençol está na seção contos (tem muita coisa boa por ali, de vários autores fantásticos). O Boca do Inferno é de longe o MELHOR SITE DE HORROR DO BRASIL! Todo final de semana dou uma visitada, ansioso pelas atualizações. Se ainda não conhece, cuidado! É provável que você perca vários dias navegando por ele:

http://www.bocadoinferno.com/

Obrigado crianças, e até breve.

Scarium Megazine

Aqui estão as capas de três edições da revista Scarium Megazine, das quais participei. O grande diferencial dessa revista de contos é o conteúdo, sempre de altíssima qualidade (e não estou falando isso por ter publicado lá, rsrs). Cada edição tem no mínimo quatro ou cinco autores de renome, ou seja, dá de dez a zero em muitos livros de contos que existem por aí (e por um preço muito mais acessível, inclusive). Portanto, aqui vão as "minhas" edições, e um link para o site da revista, onde é possível adquirir números antigos e novos.

Link da Scarium: http://www.scarium.com.br/

Edição 21 - Especial Lovecraft. Conto publicado: O Símbolo Circular.




















Edição 20 - Especial Contos de Fantasia. Conto publicado: O Salteador Noturno.




















Edição 18 - Especial Lendas Brasileiras. Conto publicado: O Confessionário

sábado, 15 de novembro de 2008

Território V - Vampiros em Guerra!

Estou escrevendo um conto (na verdade três, preciso decidir qual é o melhor) para tentar participar desse projeto. Me desejem sorte, leitores fantasmas. E para quem gosta de escrever, corram que ainda dá tempo!

Território V - Vampiros em guerra! Porque alcatéias são para lobos! Seleta de contos organizada por Kizzy Ysatis, com prefácio de Giulia Moon e capa de Octavio Cariello. Aqui haverá harmonia e não paz. Paz será a última coisa que os imortais encontrarão nas páginas do TERRITÓRIO VAMPIRO. O tema não é livre, a proposta é uma seleta de contos de combate entre vampiros. Desavenças: sejam entre clãs; entre vampiros solitários, um vampiro contra ele mesmo ou um clã inteiro contra um vampiro; um vampiro contra um clã inteiro etc. Crie sua aventura e faça com que o mundo a conheça. Recebimento: até janeiro/2009 - lançamento: março/2009. Envie seu conto: contato@terracotaeditora.com.br. Diferente de outras coletâneas do gênero, não será necessário que o autor seja obrigado a vender uma cota de livros ou mesmo pagar a edição. Apenas 20 contos vão estrelar no livro. 10 de convidados especiais e 10 selecionados. É QUASE UM CONCURSO, A DISPUTA SERÁ ACIRRADA, PARTICIPAR SERÁ UM PRÊMIO!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Miniconto: O COPO

Este é um conto curto, que publiquei em uma fanzine virtual chamada TerrorZine, editada por Ademir Pascale e Elenir Alves; a proposta deles é muito interessante: publicar contos com no máximo 15 linhas. Fazer algo legal em tão pouco espaço é um desafio, no entanto muitos autores dão show no assunto. Se você tem alguma dúvida, aqui vão os links para baixar as revistas (o conto a seguir foi publicado no número 2, e há outra história minha no número 3):

http://www.cranik.com/terrorzine1.pdf

http://www.cranik.com/terrorzine2.pdf

http://www.cranik.com/terrorzine3.pdf

Sem mais, segue o conto:


O COPO

Ela acordou de madrugada com a garganta seca como de costume, e estendeu o braço em busca do copo que sempre deixava no criado mudo. Tudo rotineiro. A dor intensa em sua boca, ao contrário, foi novidade.
Além do sofrimento, sentia pernas cascudas se debatendo entre os dentes. Algum inseto enorme bebia sua água quando ela inadvertidamente levou o copo aos lábios. Envolveu a cauda rígida com as mãos e puxou com força, porém a criatura continuava grudada. Conseguiu se livrar com um movimento vigoroso, que provocou uma explosão de agonia, depois jogou o ser para algum canto. Seria venenoso? Cambaleou para o telefone, discou 190 e esperou. Acendeu a luz e olhou para baixo, a camisola encharcada de rubro. Alguém atendeu e ela tentou pedir por socorro, mas ao invés de palavras, só saía mais sangue e sons inarticulados. Estava prestes a perder os sentidos, se não conseguisse ajuda morreria.
Só então, viu o bicho correndo pelo assoalho. Não foi seu formato apavorante que fez a mulher soltar um derradeiro urro gutural, e sim aquilo que ele carregava nos ferrões.
Sua língua.

Primeiro conto: PROMESSAS

PROMESSAS

Era tudo tão maravilhoso!
Renatinho sentia o vento batendo contra seu corpo magro, quase o derrubando. Embora fosse difícil manter os olhos abertos, não queria perder a paisagem atravessando seu campo de visão. A noite era clara o bastante para enxergar os brotos que acabavam de surgir na terra macia, a grande plantação se estendendo até o horizonte. A fazenda do vizinho era mesmo gigantesca. Nunca havia estado ali antes, seus pais não deixavam.
Mas agora era diferente.
Finalmente tinha um amigo. Uma criatura de sonhos que poderia levá-lo para qualquer lugar do mundo, longe do tédio da cidade interiorana em que nascera. Agradeceu em silêncio por não ter cedido ao impulso inicial, quando viu o bicho pela primeira vez. Se tivesse fugido, não estaria tão feliz agora, quando a alegria era tanta que dava vontade de gritar!
- Mais rápido, MAIS RÁPIDO!
Largou por alguns momentos os pêlos das costas do grande animal, levantando os braços como se estivesse na montanha russa. Embora fosse enorme e robusto, o ser corria de forma tão suave que quase não provocava solavancos. Além disso, era mais veloz que a moto do filho do prefeito! Renatinho queria que aquele metido o visse agora. Papéis invertidos, invejas trocadas, só para variar.
Estavam se aproximando da mata ciliar, aquela porção de floresta que todo fazendeiro preservava por obrigação. O menino achou que a criatura ia parar e dar a volta, mas para sua surpresa ela pulou para o meio das árvores, sem diminuir a velocidade. O cheiro das folhas verdes era delicioso. Renatinho se agarrou mais uma vez ao forte pescoço do animal, curvado ao máximo para evitar os galhos baixos. A lua não podia iluminar ali embaixo das copas, mas tudo bem. Seu novo amigo não deixaria que ele se machucasse.
- Uau, isso é incrível! Como você consegue enxergar o caminho?
O bicho não respondeu. Apenas continuou correndo, desviando das árvores com agilidade delirante. Parecia ser parte do organismo da mata, como sangue fluindo por suas veias. Quase não se ouvia o som das folhas amassando, ou dos galhos sendo quebrados pelo borrão que eram suas patas. Só se viam troncos e mais troncos, passando cada vez mais rápido...
E cada vez menos rápido.
A criatura estava parando. Renatinho não se decepcionou, para um primeiro passeio já estava de bom tamanho. E ainda tinha a volta, que seria tão divertida quanto a vinda!
- Cansou, hein? – perguntou animado para o ser, que estava completamente imóvel. Porém ele não arfava, como seria de se esperar de alguém exausto. Por que parara então?
- Tá tudo bem com você?
O animal continuou parado.
Renatinho começou a ficar com medo.
O bicho fez um movimento súbito, derrubando o garoto das costas. Este rolou pelo chão e, quando levantou o rosto, viu que o grande ser estava em pé.
Rosnava.
- Você prometeu que não ia me machucar... – Renatinho choramingou.
No instante seguinte, ficou claro que a criatura havia mentido.

Amanheceu.
Teodoro Almeida acordou devagar, absorvendo com prazer o ar puro da mata. Raios de sol atravessavam as folhas, perfurando o topo das árvores como se fossem alfinetes luminosos. O canto dos pássaros completava aquilo que seria uma perfeita cena bucólica, não fosse todo aquele sangue cobrindo o chão. Fragmentos de ossos e órgãos estavam espalhados pela área, em partes tão pequenas que um legista não saberia identificar a origem de cada uma.
O homem se espreguiçou, olhando ao redor com indiferença. Há muito havia passado o tempo em que se sentia mal por ver aquilo. O sabor matutino de carne humana já não lhe dava mais enjôo, estava até começando a gostar.
Levantou e foi em direção ao jipe, escondido a poucos metros de onde levara o menino. Banhou-se com os galões de água mineral que havia levado consigo, depois vestiu suas roupas. Não se demorou.
A criança já devia estar sendo procurada.

Mais tarde, passando por uma das pequenas cidades no caminho para Maringá, algo atraiu a atenção de Teodoro. No quintal mal-cuidado de uma casa à beira da rodovia, uma menina de dez anos se balançava, de forma triste, em um pneu pendurado numa árvore. Toda cidade de interior tinha crianças assim, com o olhar distante e sonhador, a mente grande demais para ficar presa em localidades e corpos tão diminutos.
Crianças que acreditavam em suas promessas.
Teodoro anotou mentalmente o local do casebre. Já estava bem longe da última cidade em que agira, então as autoridades não seriam problema. Havia uma mata a leste dali, onde talvez pudesse esconder o jipe. Voltaria em alguns dias para planejar sua rota de fuga.
Não se preocupe, garotinha – ele pensou. - Na próxima lua cheia, sua solidão vai acabar.
Eu prometo.

Por que "A Lua Mortal"?

Saudações!

Depois de muito protelar, finalmente resolvi criar um blog. O objetivo não é construir um diário virtual. Como diria Holden Caufield, em O Apanhador do Campo de Centeio: "... não vou contar toda a droga da minha autobiografia nem nada". A idéia geral é divulgar meus escritos:

Contos de terror.

Sim, aqui haverá sangue, tripas, monstros, fantasmas e gritos histéricos. Se você não considera esse tipo de literatura como digna de seus refinados gostos literários, o pequeno "x" no canto direito superior da tela irá se revelar muito útil. No entanto, desejo alertar que a literatura de horror pode ser muito mais refinada do que se imagina. Pode ser um exercício de sutileza, conforme costuma dizer uma grande escritora que conheço. Pois bem, por mais que acredite que a sugestão tem um poder muito mais incisivo que o explícito, não hesitarei em revirar o amontoado de carne que está jogado no meio da estrada, e então retirar as mãos cheias de vísceras e aproximar do seu rosto repugnado. Stephen King diz que há várias formas de meter medo, umas mais elegantes, outras nem tanto. Todas são válidas, basta saber usá-las. Este blog é o espaço onde irei treinar ainda mais essa arte.

Agora, sobre o título do blog... Por que "A Lua Mortal"?

Não vou contar nenhuma novidade aqui, mas acontece que as entidades sobrenaturais adotaram a noite como seu período favorito; após o entardecer, os espectros começam a resmungar em quartos escuros, fazendo as crianças se esconderem debaixo das cobertas; o estômago dos vampiros começa a roncar, de forma dolorosa; homens amaldiçoados olham para o céu à espera da lua cheia, que vai desencadear uma estranha metamorfose... Sim, a lua impassível, que assiste aos ataques da caipora contra caçadores perdidos na mata, ouve os berros aterrorizados da mulher que vê um vulto surgindo na janela, observa um náufrago ser arrastado até as profundezas pelos tentáculos de criaturas desconhecidas... Enfim, a lua mortal, a lua assassina, que direta ou indiretamente, é responsável por todos estes pequenos dramas. Mesmo quando ela não tem participação direta, ainda faz o papel de observadora omissa. Creio que ela pudesse nos contar tudo que viu, suas narrativas fariam nosso sangue bombear mais rápido, e nossa pele assumiria uma tonalidade marfim.

Além disso, o nome do blog é uma homenagem à minha música favorita, "The Killing Moon", da banda Echo e The Bunnymen, e também é uma forma de homenagear a minha amiga Giulia Moon (por coincidência, a escritora que citei lá em cima), que me ensinou muito e sempre me incentivou a continuar escrevendo.


Ops, acabei falando um pouco da minha vida sem querer! Creio que será impossível evitar esse tipo de intromissão, mas prometo me controlar.

Então é isso. Sejam bem vindos, leitores! Espero que minhas histórias, acima de tudo, ofereçam bons momentos de diversão e calafrios. No entanto, não desejo que suas noites sejam muito tranquilas após a leitura.

De fato, nada tranquilas.